sexta-feira, 23 de abril de 2010

VOCÊ SE ABANDONOU?

Posted on 16:19 by João Victor Souza Guimarães



"Preciso demais dos outros! Não tenho a menor confiança em mim mesma. Estou sempre com a sensação que os outros são superiores, melhores, mais capazes. As críticas que recebo fazem com que eu me sinta cada vez pior. Acredito em tudo que me dizem, ainda que me faça chorar. Não consigo acreditar quando alguém me elogia, penso que deve ser mentira ou uma brincadeira".
"As pessoas vivem me pedindo favores, pois sabem que nunca os recuso ou falo "não". Isso faz com que eu me sinta importante, mas também sobrecarregada, e, vez ou outra, injustiçada. Estou sempre fazendo mais do que consigo ou posso, mas a necessidade de agradar a todos é muito forte. É só acontecer alguma coisa em minha vida que logo vou contar para essas pessoas, com a esperança que me digam o que fazer e que percebam o quanto confio nelas."
"No fundo sei que não confio em mim mesma e algumas percebem minha total insegurança. Na verdade, acho que nunca tomei uma decisão importante sem antes ter pedido a opinião de quase todas as pessoas que conheço. Está certo que fico muita confusa com tantas opiniões diferentes, mas quando conto algo desagradável que me aconteceu, vejo que todas ouvem com atenção, logo vão embora e nem me ligam depois para ver se estou melhor. A preocupação é só naquele momento".
"Pergunto-me se sou tão importante quanto quero acreditar. Quando paro para pensar, percebo que muitas decisões da minha vida foram tomadas por outras pessoas. Nunca tomava a iniciativa ou dava alguma opinião por medo de ser criticada ou rejeitada. Na época da escola eu sentia pavor de não fazer parte da turminha, do time, não ser notada pela professora ou, na hora do recreio, ficar num canto sozinha".
"E os apelidos que eu recebia? Sentia-me totalmente desajeitada e fora dos padrões de beleza. Estou sempre dando importância para a opinião sobre meu corpo, minha aparência e, quando me fazem alguma critica, o que é muito comum, me sinto péssima. E cada vez mais incapaz de cuidar de mim".
"Cresci e não me sinto muito diferente, sempre dando importância ao que pensam de mim, querendo aprovação e reconhecimento de todos e sem conseguir nada além de algumas migalhas de algumas pessoas. Isso sem falar da parte afetiva. Mesmo se a relação está me destruindo, fazendo sofrer, chorar, não consigo romper. Se a relação acaba, me sinto abandonada, rejeitada, como se estivessem arrancando meu coração com as mãos, ou pior, sinto que perco um pouco de mim mesma. É horrível!"
Você se identificou com alguma parte desse desabafo? Com tudo? Você percebe que está dependendo demais de alguém e faz de tudo para que essa pessoa fique ao seu lado, mesmo que isso custe muitas vezes passar por cima de você mesma, ainda que a custo de muito sofrimento e lágrimas? A necessidade de se sentir amada, aceita, muitas vezes faz com que mantenha relações destrutivas, que não correspondam aos seus valores, ideais e, muito menos, com suas expectativas.
O fato de sempre pedir conselhos, se expor contando tudo sobre sua vida, dá aos outros a impressão de que eles sim têm competência para resolver, enquanto você se sente totalmente desprovida de tal capacidade. É como se você os desse o direito de sentirem que podem julgar, criticar, quando quiserem. O fato de não acreditar na própria capacidade de pensar, resolver, faz com que as insatisfações aumentem e o sofrimento se intensifique, não sentindo ter forças para ser diferente.
O dependente está convencido de que não existe outro lugar no mundo senão o daquele que segue os outros, sempre se sacrificando para que percebam que ele existe. O fato de crescer sentindo-se inseguro pode fazer acreditar que é sempre preciso ser amado e protegido por alguém, mesmo que esse alguém te faça sofrer muito.
Há pessoas ainda que lidam de outra forma com a dependência. É a busca total da independência, que no fundo demonstra alguém que também duvida de si mesmo, querendo a todo custo provar para si que é capaz de cuidar de sua própria vida. Mas a dependência se mostra mesmo é na relação afetiva, criando verdadeiros fantasmas ao menor sinal de que poderá ser abandonada e que não conseguirá sobreviver sem o outro.
Em qualquer caso, a dependência pode trazer muito sofrimento para todos os envolvidos, pois supervaloriza o outro, enquanto desvaloriza totalmente a si mesma. Criando pessoas distantes de quem são verdadeiramente e relacionamentos doentes, sem troca, sem amor.
Nessa semana em que comemoramos a independência e que o inconsciente coletivo pode manifestar simbolicamente sua força, que tal analisar suas atitudes, comportamentos, seja escrevendo ou pensando sobre eles, buscar a origem e começar a acreditar mais em você mesma? Lembre-se sempre que o pior abandono não é quando o mundo ou alguém que ama te abandona, mas quando você abandona a você mesma!

Rosemeire Zago, Psicóloga clínica com abordagem jungiana.

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